A Assembleia Popular de Coimbra (APC) é uma estrutura de deliberação colectiva aberta à participação de toda a comunidade cujos participantes mais activos são na sua maioria activistas inspirados pelos movimentos sociais que sucederam a primavera árabe, sobretudo o 15M espanhol mais conhecido como movimento dos indignados. Em torno da APC têm-se organizado acções diversas com cariz apartidário, laico e pacífico, visando a recuperação do sentido de comunidade através da ocupação dos espaços públicos. Acreditamos que da luta pelo "público" e pelo "comum" poderão ser lançadas as sementes para uma nova democracia. Uma democracia inclusiva, onde os valores da autodeterminação (ou autonomia), da igualdade e da liberdade sejam as linhas condutoras da construção duma sociedade para todas e para todos. O processo de decisão usado na APC é o consenso e não o voto porque não se pretende que a APC tenha unicamente uma função legitimadora de projectos individuais ou de grupos com interesses específicos mas sobretudo que proporcione condições para o desenvolvimento de trabalho colectivo assente nos valores da solidariedade e do respeito.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Mensagem do Cairo para o Mundo


Apelo à Solidariedade com o Egipto: Defender a Revolução


Uma carta do Cairo para todos os movimentos Occupy/Decolonize e outros movimentos solidários..

Após viver três décadas sob uma ditadura, o povo Egípcio começou uma revolução exigindo pão, liberdade e justiça social. Ao fim de dezoito dias de uma quase utópica ocupação da Praça Tahrir, livrámo-nos de Mubarak e iniciámos a segunda e mais árdua tarefa de remover todo o seu aparelho de poder. Mubarak foi-se, mas o regime militar mantém-se. Assim, a revolução continua - pressionando, tomando as ruas e reivindicando o direito a controlar as nossas vidas e os nossos meios de subsistência contra sistemas repressivos que durante anos abusaram de nós. Mas agora, tão cedo após o seu início, a revolução está a ser atacada. Escrevemos esta carta para vos falar sobre aquilo a que estamos a assistir, como queremos opor-nos a esta repressão, e para apelar à vossa solidariedade.

25 e 28 de Janeiro, 11 de Fevereiro - vocês viveram estes dias connosco através da televisão. Mas nós continuámos a batalhar no 25 de Fevereiro, no 9 de Março, no 9 de Abril, no 15 de Maio, 28 de Junho, 23 de Julho, 1 de Agosto, 9 de Setembro, 9 de Outubro. Uma e outra vez o exército e a polícia atacaram-nos, espancaram-nos, prenderam-nos, mataram-nos. E nós resistimos, nós continuámos; uns dias perdemos, outros ganhámos, mas nunca sem custos. Mais de mil pessoas deram as suas vidas para depôr Mubarak. Muitas mais se juntaram a elas desde então. Nós continuamos para que as suas mortes não tenham sido em vão. Pessoas como Ali Maher (manifestante de 15 anos morto/a pelo exército na praça Tahrir, a 9 de Abril), Atef Yehia (baleado/a na cabeça por forças de segurança num protesto em solidariedade com a Palestina, a 15 de Maio), Mina Danial (baleado/a pelo exército num protesto em Masperofrente à sede da TV estatal, a 9 de Outubro). Mina Daniel sofre em morte a perversa indignidade de estar na lista de acusados dos militares.

Para além disso, desde que a junta militar tomou o poder, pelo menos 12,000 de nós foram julgados/as por tribunais militares, sem possibilidade de chamar testemunhas e com acesso limitado a advogados. Há menores a cumprir penas em prisões de adultos, sentenças de morte, tortura generalizada e descontrolada. Manifestantes femininas foram alvo de agressões sexuais, sob a forma de "testes de virgindade", por parte do exército.

No dia 9 de Outubro, o exército massacrou 28 de nós em Maspero; esmagaram-nos com tanques e abateram-nos a tiro na rua enquanto manipulavam os media estatais para incitar à violência sectária. A história foi censurada. Os militares estão a investigar-se a si próprios. Estão a atingir sistematicamente aqueles de nós que não se calam. Este domingo, o nosso camarada e blogger Alaa Abd El Fattah foi preso por acusações falsas. Hoje ele passa mais uma noite numa cela às escuras.

Tudo isto feito pelos militares que supostamente assegurarão uma transição para a democracia, que afirmaram defender a revolução e que aparentemente convenceram muita gente no Egipto e a nível internacional que o fariam. A linha oficial tem sido a de manter a “estabilidade”, com garantias vazias de que o exército está apenas a criar um ambiente propício para as eleições que se aproximam. Mas mesmo uma vez eleito um novo parlamento, continuaremos a viver sob uma junta com autoridade e poderes legislativos, executivos e judiciais, sem nenhuma garantia que isto vá terminar. Quem desafia este estado de coisas é vítima de perseguição, encarceramento e tortura; o julgamento militar de civis é o principal instrumento desta repressão. As prisões estão cheias de "baixas" desta “transição”.
Recusamo-nos a cooperar com acusações e julgamentos militares. Não nos entregaremos, não nos submeteremos a interrogatórios. Se eles nos querem, que nos venham tirar das nossas casas e dos nossos locais de trabalho.

Após nove meses desta nova repressão militar, continuamos a lutar pela nossa revolução. Marchamos, ocupamos, fazemos greves e bloqueios. Também vocês estão a marchar, a ocupar, a fazer greves e bloqueio. Sabemos por todo o apoio que recebemos em Janeiro que o mundo estava a observar-nos atentamente e até a ser inspirado pela nossa revolução. Sentimo-nos então mais próximos de vocês do que alguma vez tínhamos sentido. E agora é a vossa vez de nos inspirarem, há medida que observamos as lutas dos vossos movimentos. Nós marchámos sobre a Embaixada dos Estados Unidos no Cairo em protesto contra a evacuação violenta da ocupação da Oscar Grant Plaza em Oakland. A nossa força está na partilha das nossa lutas. Se abafarem a nossa resistência, o 1% vencerá - no Cairo, em Nova Iorque, Londres, Roma - em todo o lado. Mas enquanto a revolução vive, a nossa imaginação não tem limites. Ainda podemos construir um mundo em que valha a pena viver.
Vocês podem ajudar-nos a defender a nossa revolução.

O G8, o FMI e os estados do Golfo prometem ao regime empréstimos no valor de 35 mil milhões de dólares. Os Estados Unidos dão ao exército egípcio 1,3 mil milhões por ano em ajudas. Governos por todo o mundo mantêm o seu apoio e a sua aliança de longa data com os governantes militares do EgIpto. As balas com que nos matam são feitas na América. O gás lacrimogéneo que queima de Oakland à Palestina é feito no Wyoming. A primeira visita de David Cameron ao Egipto pós-revolucionário foi para fechar um negócio de venda de armamento. Estes são apenas alguns exemplos. As vidas, as liberdades e os futuros das pessoas têm que parar de ser traficados por objectivos estratégicos. Temos que nos unir contra os governos que não partilham dos interesses dos seus povos.

Apelamo-vos à realização de acções de solidariedade para nos ajudar a opôrmo-nos a esta repressão.

Sugerimos um Dia Internacional para Defender a Revolução Egípcia a 12 de Novembro, sob o lema “Defender a Revolução Egípcia - Fim aos Julgamentos Militares de Civis”

As acções podem incluir:
  • Acções tendo como alvo Embaixadas ou Consulados do Egipto, exigindo a libertação dos civis condenados em julgamentos militares. Se Alaa fôr libertado, exijam a libertação dos outros milhares de pessoas.
  • Acções tendo como alvo os vossos governos para que retirem o seu apoio à junta militar egípcia.
  • Projecção de videos sobre a repressão que enfrentamos (julgamentos militares, o massacre de Maspero) e a nossa contínua resistência. Peçam-nos links por email.
  • Video-conferência com activistas no Egipto.
  • Qualquer forma criativa de mostrar o vosso apoio e fazer ver ao povo Egípcio que tem aliados no exterior.
Se pensam organizar alguma coisa, enviem-nos um mail para defendtherevolution@gmail.com. Também adoraríamos ver fotos e videos das acções que realizarem.


The Campaign to End Military Trials of Civilians
The Free Alaa Campaign
Mosireen
Comrades from Cairo


-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


Call-Out for Solidarity with Egypt: Defend the Revolution


A letter from Cairo to the Occupy/Decolonize movements & other solidarity movements.

After three decades of living under a dictatorship, Egyptians started a revolution demanding bread, freedom and social justice. After a nearly utopian occupation of Tahrir Square lasting eighteen days, we rid ourselves of Mubarak and began the second, harder, task of removing his apparatuses of power. Mubarak is gone, but the military regime lives on. So the revolution continues - building pressure, taking to the streets and claiming the right to control our lives and livelihoods against systems of repression that abused us for years. But now, seemingly so soon after its beginnings, the revolution is under attack. We write this letter to tell you about what we are seeing, how we mean to stand against this crackdown, and to call for your solidarity with us.

The 25th and 28th of January, the 11th of February: you saw these days, lived these days with us on television. But we have battled through the 25th of February, the 9th of March, the 9th of April, the 15th of May, the 28th of June, the 23rd of July, the 1st of August, the 9th of September, the 9th of October. Again and again the army and the police have attacked us, beaten us, arrested us, killed us. And we have resisted, we have continued; some of these days we lost, others we won, but never without cost. Over a thousand gave their lives to remove Mubarak. Many more have joined them in death since. We go on so that their deaths will not be in vain. Names like Ali Maher (a 15 year old demonstrator killed by the army in Tahrir, 9th of April), Atef Yehia (shot in the head by security forces in a protest in solidarity with Palestine, 15th of May), Mina Danial (shot by the Army in a protest in front of Masepro, 9th of October). Mina Daniel, in death, suffers the perverse indignity of being on the military prosecutor’s list of the accused.

Moreover, since the military junta took power, at least 12,000 of us have been tried by military courts, unable to call witnesses and with limited access to lawyers. Minors are serving in adult prisons, death sentences have been handed down, torture runs rampant. Women demonstrators have been subjected to sexual assault in the form of “virginity tests” by the Army.

On October 9th, the Army massacred 28 of us at Maspero; they ran us over with tanks and shot us down in the street while manipulating state media to try and incite sectarian violence. The story has been censored. The military is investigating itself. They are systematically targeting those of us who speak out. This Sunday, our comrade and blogger Alaa Abd El Fattah was imprisoned on trumped-up charges. He spends another night in an unlit cell tonight.

All this from the military that supposedly will ensure a transition to democracy, that claimed to defend the revolution, and seemingly convinced many within Egypt and internationally that it was doing so. The official line has been one of ensuring “stability”, with empty assurances that the Army is only creating a proper environment for the upcoming elections. But even once a new parliament is elected, we will still live under a junta that holds legislative, executive, and judicial authority, with no guarantee that this will end. Those who challenge this scheme are harassed, arrested, and tortured; military trials of civilians are the primary tool of this repression. The prisons are full of casualties of this “transition”.
We now refuse to co-operate with military trials and prosecutions. We will not hand ourselves  in, we will not submit ourselves to questioning. If they want us, they can take us from our homes and workplaces.

Nine months into our new military repression, we are still fighting for our revolution. We are marching, occupying, striking, shutting things down. And you, too, are marching, occupying, striking, shutting things down. We know from the outpouring of support we received in January that the world was watching us closely and even inspired by our revolution. We felt closer to you than ever before. And now, it’s your turn to inspire us as we watch the struggles of your movements. We marched to the US Embassy in Cairo to protest the violent eviction of the occupation in Oscar Grant Plaza in Oakland. Our strength is in our shared struggle. If they stifle our resistance, the 1% will win - in Cairo, New York,  London, Rome - everywhere. But while the revolution lives our imaginations knows no bounds. We can still create a world worth living.
You can help us defend our revolution.

The G8, IMF and Gulf states are promising the regime loans of $35 billion. The US gives the Egyptian military $1.3 billion in aid every year. Governments the world over continue their long-term support and alliance with the military rulers of Egypt. The bullets they kill us with are made in America. The tear gas that burns from Oakland to Palestine is made in Wyoming. David Cameron’s first visit to post-revolutionary Egypt was to close a weapons deal. These are only a few examples. People’s lives, freedoms and futures must stop being trafficked for strategic assets. We must unite against governments who do not share their people’s interests.

We are calling on you to undertake solidarity actions to help us oppose this crackdown.

We are suggesting an International Day to Defend the Egyptian Revolution on Nov 12th under the slogan “Defend the Egyptian Revolution - End Military Trials for Civilians”

Events could include:
  • Actions targeting Egyptian Embassies or Consulates demanding the release of civilians sentenced in military tribunals. If Alaa is released, demand the release of the thousands of others.
  • Actions targeting your government to end support for the Egyptian junta.
  • Demand the release of civilians sentenced to military tribunals. If Alaa is released, the thousands of others must follow.
  • Project videos about the repression we face (military trials, Maspero massacre) and our continued resistance. Email us for links.
  • Videoconferencing with activists in Egypt
  • Any creative way to show your support, and to show the Egyptian people that they have allies abroad.
If you’re organising anything or wish to, email us at defendtherevolution@gmail.comWe would also love to see photos and videos from any events you organize.


The Campaign to End Military Trials of Civilians
The Free Alaa Campaign
Mosireen
Comrades from Cairo

Sem comentários: