Comunicado de Imprensa da Acampada Coimbra
No seguimento das acampadas que surgiram, a partir do dia 15 de Maio, em Espanha sob o lema "Democracia Real Ya", iniciaram-se diversos acampamentos em Portugal – primeiro em Lisboa (Praça do Rossio) e no Porto (Praça da Batalha), depois em Coimbra (Praça 8 de Maio) e, agora, também em Barcelos (Largo da Porta Nova).
Em Coimbra, depois de uma primeira assembleia realizada no dia 20 de Maio, após uma concentração onde se juntaram perto de 100 pessoas em solidariedade com os protestos em Espanha e reivindicando também uma democracia verdadeira no nosso país, começaram-se a realizar actividades diárias na Praça 8 de Maio.
Nos dias 21 e 22 foi montado um acampamento e realizadas assembleias populares que se mantiveram diárias desde então. No dia 25 de Maio foi aprovado em assembleia popular o nosso manifesto (ver doc. anexo) e retomado o acampamento.
Das actividades realizadas durante este período, destacamos os debates com a participação de Boaventura Sousa Santos e Jorge Gouveia Monteiro e outros onde se abordaram temas como a economia social e consumo responsável, uma oficina sobre hortas portáteis, sessões de teatro do oprimido, de massagens e leitura de poemas. Além destas actividades foi realizada ainda uma caçarolada no dia 28 de Maio; afixado um painel onde as pessoas podiam expressar livremente as suas opiniões; definido um período ao final do dia de tribuna livre; iniciada uma consulta popular com 5 perguntas (ver doc. Anexo). No espaço da acampada funcionava também um atelier para crianças, um espaço de sala de estudo / biblioteca, cozinha / dormitório e loja livre.
No Domingo 5 de Junho foi decidido em assembleia a reorganização da luta, que passava pelo levantamento do acampamento e a concentração de esforços na realização de assembleias populares, acções de protesto e outras actividades. Na assembleia seguinte, no dia 6 de Junho, foi decidido alterar a periodicidade diária das assembleias para semanal e organizar uma acção local de protesto no dia 19 de Junho, em simultâneo com as manifestações marcadas para esse dia em Lisboa e noutras cidades europeias.
Assim, está marcada a próxima assembleia popular para o dia 14 de Junho na Praça 8 de Maio, pelas 18h30m, onde entre outras coisas se definirá o que fazer no dia 19. Lembramos que estas assembleias são abertas a todas e todos. Apelamos pois à participação activa das pessoas.
A próxima actividade da Acampada Coimbra será um debate sobre «Violência e Culturas para a Paz», a realizar no dia 10 de Junho na praça 8 de Maio, pelas 17h00m.
Este debate será iniciado com uma breve apresentação por Nadia Beristain, investigadora de doutoramento em estudos internacionais de paz, conflitos e desenvolvimento. Segundo Nadia Beristain, "não existe apenas a paz entendida de uma maneira, bem como há tantas formas de fazer as pazes como diferentes são as pessoas e as culturas. Uma das finalidades do debate é reconhecer e entender os diferentes tipos de violências (directa, estrutural e cultural), a par da variedade de culturas que configuram o nosso mundo em mudança; com o intuito de transformar os diferentes tipos de violência por meios pacíficos, desde o respeito e o entendimento de diferentes modos de vida, fomentando o diálogo intercultural."
Coimbra, 7 de Junho de 2011
3 comentários:
era bom ter aqui, neste mesmo post, os doc. Anexo de que se fala no texto.
obrigado
Consulta Popular:
1) Sente-se representado/a no actual sistema democrático?
2) Considera que devia ter sido consultado/a antes da assinatura do acordo com a Troika (FMI, UE, BCE)?
3) Gostava de poder participar mais directamente na tomada de decisões que nos afectam a nível local e nacional?
4) Gostava de poder usufruir dos espaços públicos e/ou abandonados e de neles intervir?
5) Acha que os trabalhadores e estudantes deviam ter mais poder nos seus locais de estudo/trabalho?
Manifesto da Acampada Coimbra
Somos pessoas comuns. Somos como vocês: pessoas que se levantam pela manhã para trabalhar, procurar trabalho ou estudar. Pessoas que têm família, amigas e amigos. Pessoas que trabalham e pessoas que trabalharam no duro todos os dias para viver e dar um futuro melhor aos e às que nos rodeiam.
Juntamo-nos às muitas e aos muitos que nestes dias estão nas ruas para protestar, que pelo mundo fora lutam hoje pelas liberdades reprimidas pelo sistema económico vigente. São centenas de acampamentos por todo o mundo.
Demo-nos conta que chegámos ao limite e não suportamos mais que uns poucos encham os bolsos e vivam como reis enquanto os outros e as outras, que são a maioria, apertam os cintos. Não aceitamos mais a corrupção de políticos, empresários, banqueiros, etc...
Sabemos que para mudar isto temos que lutar nós mesmas/os à margem dos partidos, sindicatos e demais representantes que querem fazê-lo por nós.
Decidimos ocupar a praça porque queremos um debate onde se façam ouvir as vozes de todos e todas.
Organizamo-nos livremente em auto-gestão e tentamos criar espaços de debate e acção políticos, onde decidimos directa e consensualmente.
Estamos aqui porque defendemos a transformação social face ao sistema político e económico que nos é imposto e nos rouba a vida.
Queremos propôr alternativas de organização possíveis face a um sistema que denunciamos ser:
-Injusto, imoral, desumano e desigual.
-Gerido por uma ditadura financeira que perpetua os roubos descarados e continuados a gerações de trabalhadores e trabalhadoras por parte de bancos, políticos, especuladores, exploradores, etc...
-Causador de guerras, fome e miséria internacionais através de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE), a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN/NATO), o G8 e os estados que as apoiam e delas participam.
Defendemos a retirada do plano da “Troika” (FMI, BCE, UE). Não queremos pagar dívidas resultantes de corrupção, gestão danosa ou imoralidades económicas, financeiras e políticas.
Queremos propôr desde as bases as raízes para construirmos sociedades onde possamos viver livremente através de relações de igualdade e solidariedade, sociedades onde nos sejam asseguradas condições dignas como o acesso a uma casa, a um trabalho devidamente remunerado, a uma velhice livre de miséria e solidão, à saúde, à educação, à cultura, à participação política e ao livre desenvolvimento pessoal.
Aprovado em Assembleia Popular no dia 25 de Maio de 2011
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